Academia Superação

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Falsos anabolizantes causam graves problemas de saúde


Cicatrizes, deformidades, mutilações são resultados de aplicações de substâncias que prejudicam a saúde e são impróprias para o consumo humano.

O Fantástico faz um alerta para adolescentes e jovens que querem um corpo perfeito. Está aumentando no Brasil todo e, principalmente, no Nordeste o uso de falsos anabolizantes, que podem causar problemas graves de saúde. E apareceu outra ameaça: óleo mineral, que os jovens injetam direto no braço. Isso pode causar até amputações.

Muito magro desde menino, o auxiliar de mecânico César Augusto, de 17 anos, sonhava com um corpo diferente. “Engrossar, ter braço grande, peito, ombro, corpo perfeito”, diz.

Um corpo perfeito era o que o auxiliar de pedreiro Evandro Marcos Barbosa da Silva mais queria. Encontrou muitas dores, mutilação, vergonha. “Eu passei muito sofrimento, constrangimento. Estar andando na rua, e o povo fica olhando diferente para a pessoa”, descreve.

O drama dos jovens envolve famílias inteiras. A mãe de César, a agricultora Maria Auxiliadora da Silva, passou noites em claro sofrendo junto com o filho que não conseguia dormir com tantas dores.

“É muito angustiante você ver seu filho chorando e você não poder fazer nada. Sei que tem muitas mães também que estão passando o mesmo que eu. Ajudem as mães que não tem coragem de pedir socorro”, diz.

As histórias são parecidas. Eles são jovens e querem ficar fortes, sarados, em pouco tempo. Não têm informação nem dinheiro. De repente, um amigo, ou conhecido ou mesmo o instrutor da academia do bairro revela uma receita que parece ser milagrosa. Começa o envolvimento com os falsos anabolizantes e as consequências que vão durar para o resto da vida.

Cicatrizes, deformidades, mutilações são resultados de aplicações de substâncias que prejudicam a saúde e são impróprias para o consumo humano.

“Comecei a tomar de três em três dias e aumentar a dosagem. Eu tomava ADE, vitamina para animal”, diz o auxiliar de mecânico César Augusto, de 17 anos.

“Não é um anabolizante de forma alguma. É um complexo vitamínico”, afirma a veterinária Beatriz Dutra Vaz.

A veterinária explica que o ADE é usado em animais com deficiência nas vitaminas A, D e E. “A proporção que você aplica em um cavalo que tem 300, 400, 500, 600kg é diferente de um ser humano saudável em torno de 80, 90kg”, alerta Beatriz Dutra Vaz.

Além de substâncias de uso veterinário, os jovens estão injetando óleo mineral nos músculos. É fácil comprar os produtos. O óleo mineral é vendido como laxante nas farmácias sem receita médica. O adolescente também adquire seringa e agulhas.

Na loja de produtos veterinários, é possível comprar o complexo vitamínico que só poderia ser vendido para maiores de idade com prescrição do veterinário. As consequências das injeções de óleo mineral são devastadoras.

O efeito mais comum é que o óleo injetado se infiltra entre os músculos ou se acumula, formando um abscesso, uma espécie de bolsa entre os feixes musculares. A presença dessa substância gera um processo inflamatório, que depois se transforma em uma infecção. Isso provoca a destruição do tecido muscular, a necrose.

“A utilização intramuscular causa vários problemas, desde fibrose com perda de mobilidade do segmento muscular até quadro de infecção grave. Pode chegar à amputação até quadro de óbito”, relata Jader Wanderley, diretor da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia de Pernambuco.

O que assusta os médicos é a quantidade cada vez maior de jovens e adolescentes que chegam dos sítios de vários municípios do sertão em estado grave. Só este ano, no Hospital de Ensino da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Petrolina, 150 pacientes foram atendidos, 26 só em setembro. Três jovens tiveram que amputar um dos braços.

“Além do risco absurdo dessas substâncias, ainda há o risco adicional de os meninos contraírem doenças infecto contagiosas como AIDS, hepatite e tantas outras. Então, é realmente um problema grave de saúde pública”, ressalta o médico Bruno Freitas.

O drama é cada vez mais comum no interior do Nordeste. Em Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, 11 adolescentes injetaram complexo vitamínico animal. Seis foram parar no hospital com lesões nos braços. “Todo mundo comprou e a gente se aplicou”, diz um jovem.

Em Salvador, na Bahia, um estudante de enfermagem de 22 anos, que prefere não ser identificado, também usa a droga que promete o efeito anabolizante há cinco anos. Ele mesmo aplica as injeções.

“Eu presenciei vários amigos meus com abscessos, tendo que fazer drenagens, outros tendo que amputar os membros, e isso deixa a gente muito triste. Mas, depois, a gente volta a fazer tudo de novo", confessa o estudante.

Um estudo do Conselho Regional de Educação Física na Paraíba revela um dado alarmante: 11% dos frequentadores de academia que foram entrevistados usam óleo mineral e vitaminas para animais.

Pedro André escapou por pouco. Ele correu risco de ter o braço amputado, fez dez cirurgias. “Espero que isso sirva de lição para muita gente que usa esse tipo de droga, que não vale a pena”, declara.

“Procure seus músculos com exercícios, não com drogas. Essa droga afeta não só os braços, afeta a cabeça. Afeta tudo”, diz a mãe de Evandro Marcos Barbosa da Silva.

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